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A morte não é o fim: o que vem depois que os olhos se fecham

Uma das grandes perguntas que ainda não se tem resposta é: o que acontece depois que morremos? Embora não exista um consenso, as religiões trazem diferentes caminhos do que acontece depois.

Por Gabrielle Rodrigues
27/11/2020

A morte é a única certeza que nós, seres humanos, temos. É irremediável, não se mudar, é a mesma para o mais rico e o mais pobre. O ato de viver é exatamente o oposto da morte, enquanto uma é um estado estático, o fim de uma corrida, a vida é como andar em uma montanha russa, dúvidas, questionamentos, ansiedades, tudo relacionado a viver é movimento.

Ainda pensando em vida, seu maior mistério não é sobre ela em si, mas o que acontece depois, para onde vamos quando tudo acabar? Não se tem uma resposta concreta, a ciência até tenta explicar, mas a resposta que gera conforto na maioria das pessoas vem através da fé. Segundo o Google, religião é a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência. Sua vida aqui define como e para onde você vai e embora o Brasil seja um país predominantemente católico, existe no nosso meio outras crenças que não necessariamente seguem a mesma doutrina de para onde vamos.

Aqui foram entrevistadas pessoas de diferentes credos, como o: Espiritismo, Umbanda, Mórmons e Evangélicos, para mostrar que existem diferentes caminhos, diferentes lugares para onde vamos, cabe a você como indivíduo conhecê-los e acreditar naquilo que mais lhe agrada.

“Mas eis que chegou a hora de partir, eu para morrer, vós para viver. Qual de nós terá melhor sorte? Ninguém o sabe, somente Deus.” – Sócrates

Ninguém sabe explicar para onde a alma e/ou o espírito vão depois do último suspiro de vida. Para a grande maioria das religiões morrer não é o estágio final, existe um outro lugar, uma nova meta, um novo espaço para habitar. Os espíritas acreditam que a morte é apenas a separação do corpo físico e o espírito, esse que carrega a identidade do indivíduo, depois disso o corpo se desfaz e o espírito vai para um lugar onde essa identidade mais se encaixa. “Na nossa concepção, existem pessoas que não reconhecem que morreram, não importa quanto tempo passe” Júlia Roberta (21), seguidora do Espiritismo. Os espíritas acreditam na reencarnação, eles acreditam que seu espírito passa por situações que causam o seu amadurecimento espiritual e moral, que só se completa quando os dois estão alinhados em um amadurecimento perfeito, mas seu espírito tem o livre-arbítrio de decidir para onde deseja ir.

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O amadurecimento espiritual segundo o Espiritismo. Ilustração: Xamyel

A Umbanda religião de matriz africana, mas brasileira desde nascença, com um sincretismo que mistura suas tradições africanas ao catolicismo, enxerga a morte como o encerramento de um ciclo que eles chamam de passagem, uma travessia para o lugar de aprendizagem e evolução até que seu espírito esteja pronto para reencarnar novamente. “Ali, o espírito começa o processo de evolução, começa mais um ciclo, conforme o crescimento nesse plano, o espirito está pronto para reencarnar no plano físico que vivemos” Laryssa Freitas (23), umbandista.

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A morte em preto, fechamento de um ciclo,  já na parte mais clara o renascimento. Ilustração: Xamyel

Religiões evangélicas ou protestantes têm a morte como a parte final de um plano. Tudo que é feito aqui, nessa vida, determina qual é o seu lugar de destino, mas isso só quando Jesus Cristo os chamar, até que isso ocorra, morrer é sinônimo de descanso e repouso da alma. Os mórmons acreditam também na vinda de Cristo, mas diferenciando dos evangélicos e protestantes, eles acreditam que se você foi bom em vida, estará no paraíso, se foi ruim, irá para a prisão, lugar reservado para que haja arrependimento e assim conquiste um lugar entre os reinos reservados para os fiéis. “Nós acreditamos que quando o julgamento final ocorrer, nós seremos divididos em 3 reinos, o primeiro será para os que forem excelentes em vida, esses irão morar com Deus. O segundo será para os que não foram bons e nem ruins, ele será visitado pelo Senhor, mas seus moradores não viveram com ele e o último é reservado para os que não foram bons, esse não terá a presença do Pai ou Filho, será visitado apenas pelo Espírito Santo” Sister Menezes (21), missionária da Igreja dos Santos dos Últimos Dias.

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Representação dos 3 reinos e a imagem de Deus. Ilustração: Xamyel

“O gosto de minha morte na boca deu-me perspectiva e coragem. O importante é a coragem de ser eu mesmo.” - Friedrich Nietzsche

A certeza de que tudo não se encerra reflete nas ações de cada fiel, até aqueles que não acreditam em separação entre céu e inferno. Essa ideia acalma um coração agitado, gera uma paz e tranquilidade para que esses vivam uma vida cheia e completa. Laryssa Freitas afirma: “eu consigo me lembrar exatamente da Laryssa antes e depois de entrar na Umbanda. Antes, pensava que tudo se encerra, fazia o que dava na telha, agora, isso reflete em todas as minhas ações; não que eu deixe de fazer o que eu quero por acreditar em uma condenação ou punição, mas sempre penso: isso vai agregar no meu ciclo, faz parte de quem eu sou?”

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Representação do catolicismo, paraíso e condenação. Ilustração: Xamyel

Apesar de discursos contrários, a religião vem para aproximar o homem do divino, não para condenar ou puni-los por não seguirem as normas e doutrinas impostas, embora algumas acreditam em consequências de suas ações, isso não as torna melhores ou piores. “Eu vejo a morte como lucro, pois a vida sempre está em Cristo, Paulo diz que o viver está em Cristo e o morrer é lucro.” Lucas Leão (24), evangélico.

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Representação dos fiéis ao redor de Jesus. Ilustração: Xamyel.

Fé para muitos é traduzida como o firme fundamento das coisas que não se veem e acreditar que exista algo te esperando e aguardar ansiosamente por isso, é um verdadeiro ato de fé. A Sister Machado afirma que não teme a morte, pois ela sabe que Deus tem planos para ela, morrer já não é mais um destino terrível que não há como contornar, mas se torna mais um passo em um plano maior. “A vida que temos aqui na terra é apenas uma preparação para que possamos viver com Deus.” Sister Machado, missionaria da Igreja dos Santos dos Últimos Dias

“Se é mesmo verdade o que os sábios nos dizem e se existe um lugar que nos acolhe (depois da morte), talvez o amigo que acreditamos extinto tenha apenas nos precedido.” – Sêneca

É aqui, nesse ponto em que o exercício da fé é testado, consolar o coração depois da perda de alguém próximo. Não é a perda em si que dói, mas a saudade e o espaço vazio que aquele ente deixou e é ali que entra o amor da religião, um amor que conforta a alma dos que ficam em ter a certeza de que aqueles que se foram estão em um lugar melhor ou em um processo de crescimento para se tornarem pessoas melhores . “A religião foi o que mais me reconfortou na perda do meu avô, saber que ele pode ter sido recebido por amigos queridos e estar buscando aprender mais, evoluindo e de braços abertos para nos encontrarmos novamente se for permitido.” Julia Roberta. Ver a perda através das lentes de uma crença, torna o luto mais suportável, mais leve de se carregar, não é que não doa, mas é reconfortante saber que ainda não acabou. A Sister Menezes afirma que se sente tranquila, porque um dia ela vai se reencontrar com as figuras amadas e ali vão viver como uma família eternamente.

É do ser humano perguntar o porquê de morrer, por que algumas pessoas precisam nos deixar no que parece ser antes da hora, esse é o questionamento que gira na cabeça de quem está passando pelo processo do luto ou caminhando para ele e as crenças vieram para acolher e aquietar essas dúvidas. Laryssa Freitas diz que com a Umbanda conseguiu compreender melhor a perca do pai. “São ciclos que se abrem e precisam ser encerrados, mas isso não quer dizer que é mais fácil, dentro de toda essa situação, nós sempre buscamos cura, mas isso não quer dizer cura para o corpo, no caso de doença, mas a cura que Deus quer oferecer, seja para restauração ou conforto do coração.

“Ninguém sabe, na verdade, se por acaso a morte não é o maior de todos os bens para o homem, e entretanto todos a temem, como se soubessem, com certeza, que é o maior dos males.” – Sócrates

Como cada religião tem sua visão diferente, não se pode afirmar que esta ou aquela é correta e mesmo que pudesse, esse não é o objetivo. A morte é a mesma para todas as crenças, embora cada uma tenha suas particularidades, a sua maneira, todas trazem conforto e confiança de que existe algo maior e nos fazem enxergar essa vida como um presente e tendo uma visão da morte, deve ser vivida ao máximo, pois apesar de algumas acreditarem em outras vidas, essa aqui é única, na próxima você estará diferente, mais experiente, evoluído. Ela, a morte, pode não ser o que todos almejam, mas não quer dizer que precisamos temê-la, é mais fácil encará-la como um passo mais próximo do objetivo maior, seja esse alcançar um céu ou crescer em espírito.

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